domingo, 17 de abril de 2011

Toneladas de lixo podem criar renda

Separar todo lixo produzido nas residências, evitar que materiais recicláveis possam ser misturados aos restos de alimento, facilitar seu reaproveitamento pelas indústrias, evitar a poluição do meio ambiente. Essas são algumas ações do processo de reciclagem do lixo urbano presente em algumas cidades brasileiras. Em Belém essa ainda é uma realidade distante, a quantidade de lixo coletada chega a mais de 23 mil toneladas por mês e 35% de todo o material que poderia ser reciclado, ainda vai para os aterros.
A coleta seletiva ainda é restrita e boa parte do material que poderia ser reciclado é desperdiçado nos lixões, contribuindo para a poluição do meio ambiente. Os catadores de lixo, antigos aliados na separação de materiais recicláveis do lixo comum, ainda continuam vivendo em condições sub-humanas a beira dos lixões e expostos a permanentes riscos de acidentes, por trabalhar sem proteção.
A maioria dos catadores de lixo da Região Metropolitana de Belém residem a beira dos lixões, disputando com os urubus, ratos, moscas e baratas parte do alimento do dia-a-dia e sobrevivendo da venda de materiais recicláveis que conseguem coletar. Sofrendo riscos permanentes de acidentes, pois a maioria não utiliza luvas, botas e instrumentos apropriados, trabalham durante o dia todo de domingo a domingo e ganham uma média de R$ 200,00 por mês, para o sustendo de toda a família.
Manoel Pires Soares, 34 anos, que há mais de 25 anos trabalha coletando lixo, diz que toda vez que chega um caminhão para descarregar o lixo, começa o seu trabalho: “Separamos tudo o que pode ser reaproveitado como plástico, papelão, ferro, vidro, do lixo comum. Depois ensacamos todo o material para que fique organizado na hora que formos vender”, explica.
Manoel conta que trabalha durante a semana inteira e recebe cerca de R$ 300, 00 por mês, dinheiro que sustenta a mulher e mais três filhos. Os compradores desse material, na maioria das vezes sucateiros, atravessadores e pequenas fábricas de reciclagem, vão até os locais dos lixões para efetivarem a compra.
Os locais são distantes dos centros urbanos e estes formam uma comunidade isolada e a margem da sociedade. O quilo do plástico tem sido vendido a 25 centavos, as garrafas Peti (garrafas de refrigerante) a 50 centavos, o papelão a sete centavos e o ferro a 18.
Os materiais comprados pelos catadores passam por um processo de reciclagem nas fábricas do gênero. Na reciclagem o primeiro passo é a catação, que consiste na separação dos materiais. Após a separação os materiais são triturados e lavados logo depois para a retirada das impurezas.
O próximo passo é a secagem, o material seco é colocado em uma máquina para ser aglutinado e logo depois é colocado na estrussora recuperadora até chegar a picotagem e vira um granulado. Nessa composição é vendido para as indústrias onde serão transformados em novos produtos.
Ricardo Corrente, proprietário de uma fábrica de reciclagem destaca as vantagem desse processo: “Além de ser uma alternativa de geração de trabalho e renda, é uma maneira prática e racional de contribuir para a preservação do meio ambiente, haja vista que esses materiais demoram anos para serem decompostos no meio ambiente”, ressalta.
Apesar da coleta seletiva do lixo e a reciclagem de materiais ainda serem restritas em Belém algumas medidas alternativas e pontuais estão sendo realizadas para amenizar o problema. É o caso do projeto “Reciclando, colhendo e alimentando” da Organização Paraense dos Mutuários, Moradores e de Proteção ao Meio Ambiente (ORPAM), que visa capacitar, formar e organizar catadores de lixo da Região Metropolitana de Belém em associações e cooperativas de trabalho e produção, ajudando a ampliar a coleta seletiva do lixo urbano.
Para o presidente da ORPAM, José Colares, a limpeza da cidade de Belém ainda deixa muito a desejar, quando comparada a outras cidades brasileiras.
“Ainda encontramos muito lixo nas ruas da cidade. Materiais como garrafinhas, saco plástico, que poderiam ser recicladas, continuam nas ruas entupindo os esgotos e ocasionando enchentes em dias de chuva”. Ele acredita que campanhas educativas voltadas para a população aliada a coleta seletiva e reciclagem do lixo ajudariam a resolver o problema.
“Os catadores de lixo tem um grande papel nesse processo daí a importância de estarem capacitados e organizados para o trabalho”, ressalta. Alguns trabalhadores já estão dando exemplo e se organizando em cooperativas. É o caso dos catadores do Bairro de Águas Lindas, no município de Ananindeua que formaram uma cooperativa há um ano. “Somos quase cinqüenta pessoas trabalhando aqui nesse espaço há quatro anos. Resolvemos nos reunir para formar a cooperativa para que pudéssemos conseguir ajuda, pois são muitas as carências aqui e para que trabalhássemos de uma forma organizada e unida”, conta.

Fonte - O Liberal - PA

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